sexta-feira, 12 de agosto de 2011

QUANDO UM ADJETIVO É UM VERBO

Walkiria Assunção

As línguas diferem porque dão nomes diferentes às coisas: um cavalo se chama Plerd em alemão, e “comer” em francês é manger. Basicamente ( continua a resposta ), cada língua compreende um certo número de palavras e cada palavras designa uma coisa: um ser, uma ação, um estado, ou ainda uma relação mais abstrata, como no caso das conjunções: porque, mas etc.
Podemos começar do seguinte: a própria noção de “ palavra” pode variar muito de língua para língua. Vamos admitir que uma palavra se caracteriza por não poder ser, normalmente, interrompida por uma hesitação da fala: assim, podemos dizer ela tem... ééé... uma fazenda, mas nunca ela tem uma fa...ééé...zenda.
Isso caracteriza fazenda como uma palavra.
As línguas são sistemas de nomenclatura para as “ coisas” do mundo. A pergunta parte de que essas “ coisas” sempre se distinguem uma das outras, independentemente de nossa percepção delas.
Mas os fatos não sustentam essas concepção da relação entre as línguas e os conceitos que temos das coisas. As línguas, longe de serem mero sistemas de nomenclatura, são também sistemas de recorte da realidade; cada língua reflete uma organização própria imposta pela nossa mente às coisas do mundo.
Cada língua reflete uma organização própria da realidade.
Isso não significa, evidentemente, que os falantes das línguas não consigam fazer as distinções que sua língua não faz. Podemos perfeitamente compreender a diferença entre smarrice e perdere, assim como a diferença entre fleuve e riviere, embora nossa língua não as realize através das palavras distintas. Não há duvida de que as características de cada língua revelam alguma coisa da visão de mundo de seus falantes.
Uma língua é muito mais que uma lista de nomes para as coisas __ é, de certa forma, um sistema de organização do mundo, um instrumento que nos servem para compreender a imensa complexidade da realidade que nos cerca. Estudar em profundidade a estrutura de uma língua é estudar a mente humana; é observar uma das maneiras que a mente criou de recortar e organizar a realidade, a fim de compreende-la. Cada palavra não exprime uma coisa; ela também define essa coisa, à sua maneira particular. Nesse sentido, e pelos menos em algumas medida, as coisas refletem as palavras, tanto quanto as palavras refletem as coisas. Em outras palavras, ao falar nós não apenas adequamos as palavras às coisas, mas também, em grande medidas, adequamos as coisas às palavras. Assim, o falante de italiano trata perder o passaporte e perder o trem como duas “coisas” diferentes, simplesmente porque sua língua tem duas palavras distintas para “perder”.
Quando uma língua se extingue, desaparece, claro, um objeto de interesse dos lingüistas, e os textos produzidos nessa língua se tornam incompreensíveis, a não ser para eventuais especialistas. Mas a morte de uma língua significa mais: significa o desaparecimento de uma visão do universo que, em si, é absolutamente única. Fechar-se uma das janelas para compreensão da mente do homem.

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