sexta-feira, 12 de agosto de 2011

DIZEM QUE VAI MAL O VERNÁCULO NO BRASIL

Walkiria Assunção

Os fundamentos para uma prática estão ainda longe de estar prontos para uma adaptação pedagógica que poderá partir de situações documentadas e permitirá, com certa margem de acerto, a condução do ensino baseada, pelo menos, nas variedades existentes no dialetos de segmentos cultos de cinco capitais brasileiras ( Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Porto Alegre).
Com trabalhos monográficos sobre dialetos regionais ou tópicos específicos destes dialetos apresentados em geral em dissertações de pós-graduação de circulação restrita e muitos artigos dispersos em periódicos, além de comunicações e congressos, cujas atas, freqüentemente por razões econômicas, não se publicam, vê-se que se faz dialetologia diatópica no Brasil.
O mesmo pode dizer da dialetologia social ou da sociolingüística, cuja temática vem ocupando alguns pesquisadores, sobretudo a partir da década de 1970. Esses são dados animadores e também significativos para o conhecimento da diversidade lingüística brasileira. Abrem-se também perspectivas em direção a estudos de línguas em contato com o português em algumas situações típicas do Brasil, tanto em relação aos contatos lingüísticos de português como línguas transplantadas por imigrantes a partir do século passado, como aos contatos com populações indígenas autóctones, que mantêm, apesar dos massacres passados e presentes, vivas e em uso ainda no Brasil, mais de cem línguas indígenas.
Aqueles que partilham como princípio a defesa da diversidade lingüística brasileira como ponto de partida para o ensino da língua materna no Brasil se vêem sem um instrumental cientificamente preparado a partir do qual possa ser conduzido um trabalho pedagógico criador e enriquecedor para os estudantes e paras a língua portuguesa na sua diversidade histórica.
Um tema que merece atenção é o do “domínio/falta de domínio” da língua pelos estudantes que chegam aos cursos universitários. Procurarei deter-me naqueles que dependem mais diretamente do discurso lingüístico na sua formação e atuação profissional. Serão eles os futuros profissionais das chamadas ciências humanas, nelas incluídas os de letras, tendo estes ainda como encargo maior e básico o de virem a ser professores de línguas e literaturas, entre elas, predominando, o ensino do vernáculo.
Se os estudantes hoje não “ dominam” a norma idealizada e própria a segmentos da cultura dominante, sobretudo na comunicação escrita dominam eles perfeitamente a norma do seu grupo social, desde que transmitam mensagens sobre temas ou assuntos que conhecem e pelos quais se interessam. Portanto, quando dizem que “não dominam a língua” deve isso quere dizer: não dominam a nossa idealizada arbitrariamente e imposta, além de não poderem estar em condições de se expressarem sobre assuntos que não conhecem ou mal conhecem.
A comunicação escrita obedece a normas estabelecidas preteritamente e, até certo ponto, ainda em uso na fala de uma elite cultural que hoje se situa entre uma minoria de individuo em geral de uma faixa etária avançada, que representa um segmento sociocultural do qual não fazem parte os universitários, já pela idade, já por pertencerem muitos dos que chegam aos cursos superiores brasileiros a segmentos socioculturais e econômicos diversos, já por ambas razões. Portanto os estudantes, desse modo, normas dialetais na sua comunicação oral que refletem a diversidade social e regional de onde provêm.
Ao propalado empenho nacional, embora insuficiente ainda, de multiplicar escolas não tem acompanhado o esforço muito mais oneroso e complexo de enriquecer a qualidade do ensino. Resulta disso que a quantidade tem sido inversamente proporcional à qualidade.
A pesar do número crescente de escolas, elas não são suficientes para atender a demanda educacional do país e, o que é mais grave, as que existem, por razões várias, estão longe de preencher on níveis de qualidade exigidos, com exceção escolas particulares acessíveis apenas a uma elite minoritária e de alto poder aquisitivo.
A meu ver, essa orientação de desenvolver linguagens como instrumento de comunicação enriqueceu, de um lado, a formação do estudante e, quando bem conduzida, o integrou, sem dúvida, no universo audiovisual do mundo em que vivemos. Por outro lado, o estudo da língua portuguesa, quer entendido como o “ uso da língua” quer como “ o saber a respeito da língua” ficou, sem dúvida, minimizado. Decorreu isso não só do alargamento do âmbito da disciplina como a manifestação progressiva do ensino, a que antes aludi, e da proletarização do professor.

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